Era 2007, e a promessa do governo Lula 2 de tornar o Brasil a Arábia Saudita do etanol turbinava uma avalanche de investimentos em novas usinas. Como muitas outras, a companhia paulista Nardini projetou a construção de uma unidade de etanol em Goiás, naquela época uma nova fronteira para o setor. Até que veio a crise de 2008, seguida alguns anos depois de crises setoriais que fecharam muitas usinas e esfriaram os planos da companhia.
Agora, após três anos de melhora nos preços do setor e um cenário mais amigável, a Nardini, que faturou R$ 1,1 bilhão na safra 2021/22, concluiu a construção de sua segunda usina em Aporé (GO), que começa a operar nesta safra.
Fruto de um aporte de R$ 800 milhões, é o primeiro ´greenfield´ de uma usina de etanol de cana dos últimos dez anos em Goiás, Estado que hoje tem 38 usinas em operação. Nos últimos anos, os investimentos recentes em biocombustível no Estado foram em etanol de milho – este sim um segmento em expansão, dada a oferta do grão no Centro-Oeste. A escolha de Goiás foi guiada pela presença anterior dos Nardini no Estado, onde já praticam a pecuária, e pelo benefício fiscal de ICMS do programa estadual Produzir.
A nova usina também é um caso fora da curva no Centro-Sul, onde os poucos investimentos industriais da última década foram para reativar usinas paradas, aumentar capacidades e diversificação – seja para fabricação de açúcar, cogeração de energia, e mais recentemente em biogás.
O último ´greenfield´ do Centro-Sul foi erguido no ano passado no Vale do São Francisco pelo Grupo Paranhos, mas ainda não entrou em operação. Com exceção desse caso, não houve mais novas unidades construídas do zero nos últimos cinco anos, pelo menos. Algumas usinas fechadas por causa de falências também foram reativadas recentemente, como a de Canápolis que a CMAA arrematou em leilão do grupo João Lyra.
A construção da usina da Nardini em Goiás foi acelerada em 2021. Embora na época o mercado de etanol ainda estivesse baqueado pela pandemia, o de açúcar entrava em déficit de oferta, dando sustentação aos preços da commodity. Além disso, a expansão da Usina Vista Alegre chegara no limite. “Vimos que a usina foi chegando em sua capacidade máxima e vimos a oportunidade de terminar o projeto lá”, afirma o CEO Riccardo Nardini.
Enquanto a construção ficou parada, a companhia plantou cana para fornecer para outras indústrias de Goiás, e já tem agora 11 mil hectares prontos para colher e moer nesta safra.
Para erguer a nova usina, a Nardini aproveitou alguns equipamentos da unidade paulista de Vista Alegre e completou a construção com um investimento feito ao longo dos últimos 15 anos, mas concentrado nos últimos dois anos, segundo o empresário.
A usina é de pequeno porte, com capacidade para processar até 1,4 milhão de toneladas de cana por safra, mas com licença que lhe permite chegar a 3 milhões de toneladas anuais. Neste primeira ciclo (2023/24), o volume moído deve ficar em 900 mil toneladas, se o rendimento das lavouras chegar a 85 toneladas por hectare.
A usina vai produzir apenas etanol hidratado, com capacidade de fabricar até 70 milhões de litros por safra. A unidade também terão cogeração de energia a partir do bagaço. A potência será de 55 mil megawatts (MW), mas a Nardini já terá que ampliar a planta para 70 mil MW para começar a entregar energia em 2027, vendida no leilão A-5 do ano passado. A companhia ainda não descarta investimentos futuros em outros produtos, como etanol anidro, açúcar e leveduras.
O investimento foi financiado com recursos bancários e do mercado de capitais. No início do projeto, o BNDES liberou R$ 160 milhões para apoiar a construção. Bancos privados financiaram mais R$ 140 milhões, e outros R$ 200 milhões foram levantados com a emissão de certificados de recebíveis do agronegócio (CRAs). Em média, o custo das dívidas feitas ficou próximo do CDI + 2%.
A expectativa, segundo Nardini, é que o retorno do investimento na nova usina se dê até o terceiro ano de operação, quando também espera que a moagem de cana da usina alcance a atual capacidade instalada.
Fonte: Udop
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